Ontem o ator e diretor francês, François Kahn, realizou no TUSP a palestra com o tema Jerzy Grotowski: memória – experiência – silêncio, diante de uma platéia praticamente lotada de profissionais, alunos e apreciadores das artes cênicas, todos particularmente interessados em conhecer um pouco da vasta experiência do pesquisador, que participou como guia em vários projetos parateatrais do Teatr Laboratorium dirigido por Jerzy Grotowski em Wroclaw, na Polônia. Em sua explanação, Kahn primeiramente preocupou-se em elucidar didaticamente aspectos históricos da trajetória de Grotowski para, em seguida, dedicar-se a refletir sobre sua experiência como guia junto às práticas parateatrais e as implicações éticas e estéticas deflagradas pela conduta de Grotowski.
Experiências parateatrais dizem respeito a uma escolha definidora no percurso de Grotowski: ao nomear desta forma esta nova etapa de trabalho, o encenador mergulha no epicentro da experiência teatral, na medida em que Parateatro adquire o sentido de ao lado do teatro. Grotowski ressignifica inclusive a perspectiva do espectador dentro do processo. Um teatro produzido, acompanhado e observado de dentro, de modo que a sua percepção se dá numa esfera de proximidade e experimentação direta.
A função de guia exercida por François Kahn no período em que vivenciou as pesquisas práticas de Grotowski, conecta-se diretamente à esta perspectiva de relação com o teatro proposta pelo encenador; o guia, sujeito ativo inserido no trabalho, depois de processos de preparação está pronto para abarcar o processo do outro, como um tutor no percurso de apreensão. O guia consolida-se, portanto, como testemunha de experiências do próximo. Aquele que legitima os atos do outro, tornando-os autênticos e válidos no momento de sua experienciação. No lugar do guia encontramos, consequentemente, um dos tanto substratos do teatro proposto por Grotowski, fundamentado essencialmente no envolvimento pleno de seus participantes.
Nesta perspectiva da testemunha de experiências, François faz uma digressão pessoal que culmina numa digressão sobre a história do teatro de Grotowski, tendo e vista que a memória de François está completamente imbricada pelo percurso de Grotowski, suas proposições práticas e sua elaboração teórica.
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