segunda-feira, 9 de novembro de 2009

PRIMEIRAS REFLEXÕES.....
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A Mulher que Ri e as Metáforas da Memória


A Mulher Que Ri dirigido por Yara de Novaes é um espetáculo baseado no conto Sete Krajcár (Sete Moedas) do autor húngaro Móricz Zsigmond, e fala sobre a busca memorial de um homem em relação à convivência com os pais, com valores familiares e sociais que definiram sua trajetória de vida. Segundo Eloisa Elena, atriz do espetáculo, o que chamou sua atenção na obra principalmente foi o olhar diferenciado sobre a morte. O conto foi o mote inicial para o desenvolvimento da dramaturgia realizada por Paulo Santoro. Apropriando-se da situação e do clima proposto, Paulo criou sobre a linguagem literária uma linguagem dramatúrgica que abarcasse a atmosfera do conto.

Talvez por ter sido baseado numa obra literária, o espetáculo destaca a palavra como mediadora entre passado e presente, desenvolvendo-se a partir da narrativa do Filho, personagem interpretado por Fernando Alves Pinto; esta narrativa, assim como os processos de recordação individual os quais são freqüentemente permeados por escolhas subjetivas, ora se apresenta numa linearidade clara, dramática, ora se apresenta como uma reconstituição episódica e criativa do passado, para que ele surja não arraigado na dolorosa realidade e sim nos campos do desejo e da fuga.

O filho trilha um caminho regressivo no tempo sempre acompanhado cenicamente de um boneco, expressão alegórica dele mesmo no momento da pós-infância/pré-adolescência. Carregando o boneco nas costas o Filho evidencia um fardo nostálgico, o resquício do cansaço de uma juventude rodeada por conservadorismo e penúria.

As inquietações do rapaz se traduzem no boneco de forma melancólica, potencializada pelo corpo de Fernando Alves Pinto que propõe uma movimentação quase deslizante pelo palco. Nesta perspectiva, o Filho do tempo presente literalmente escorrega para o espaço da memória, tornando-se o Filho do tempo passado, um jovem questionador que se recusa a seguir os costumes da própria família.

A Mulher que Ri, personagem que dá o nome do espetáculo, é a Mãe. Figura que através da recordação e narrativa do Filho, aparece para o público como uma mulher bem-humorada e extremamente consciente das próprias escolhas e limitações; sua incessante risada parece num primeiro momento uma atitude histérica e desorientada frente aos fatos cotidianos, entretanto, no decorrer da trama, percebe-se que suas reações cômicas aos questionamentos do Filho e às imposições do Pai, são também um posicionamento, uma postura ativa diante das situações colocadas.

O Pai é mostrado como um homem austero, que submisso às condições da fábrica onde trabalha transforma a opressão vivida no espaço público em opressão transmitida no espaço privado. A grande questão para o público, no entanto, é: Eles de fato são na história do Filho o que é mostrado ou são a projeção reflexiva do Filho sobre o próprio passado? E sendo assim, as questões sociais ficaram tão marcadas nesta família a ponto de definirem as margens do exercício de recordação do Filho? Em que medida as inquietações do Pai em relação à fábrica tão presentes no tempo da infância agora influenciam sua reflexão sobre o passado e sobre sua experiência pessoal no âmbito familiar? Questões que o espetáculo não responde, mas problematiza, deslocando o espectador do lugar da contemplação para a o lugar da investigação sobre a natureza da memória e suas cicatrizes.

A estrutura cenográfica da casa onde se passa a história é infiltrada de elementos que apontam sensações memoriais tais como texturas, fotos, musicalidade, e oferece esta dimensão do jogo da memória, a lembrança que trai ou que é traída por quem a experienciou. O esquecimento também é materializado a partir da casa, especialmente quando os ladrilhos de madeira são arrancados pela Mãe e pelo Filho na procura pelas sete moedas. Uma poética temporal surge em cena, a casa antes toda ladrilhada de repente adquire um tom de abandono, pois a falta dos ladrilhos arrancados reflete a nuance da velhice das coisas que em determinado momento nos são caras e com o passar do tempo, transformam-se em raridades do presente.


Por Paloma Franca Amorim


FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO
: YARA DE NOVAES
ELENCO
: ELOISA ELENA, FERNANDO ALVES PINTO, PLÍNIO SOARES
CENOGRAFIA E FIGURINOS
: ANDRÉ CORTEZ
TRILHA SONORA
: DR MORRIS
ILUMINAÇÃO
: FÁBIO RETTI
COORDENAÇÃO TÉCNICA
: MAURÍCIO MATEUS
ASSESSORIA EM VOZ CÊNICA
: MÔNICA MONTENEGRO
WORKSHOP DE VIEW POINTS
: MIRIAN RINALDI
FOTOS
: JOÃO CALDAS
PROGRAMAÇÃO VISUAL:
VICTOR BITTOW
WEBSITE
: LIN DINIZ e LEONARDO MACIEL
PRODUÇÃO
: BARRACÃO CULTURAL

NA INTERNET:
http://amulherqueri.com.br/
http://www.barracaocultural.com.br/
http://www.youtube.com/watch?v=jUlaLBpCTZw

Móricz Zsigmond:
Móricz Zsigmond é um dos mais famosos nomes da literatura húngara, suas obras mais conhecidas são: Sete Moedas e Outras Histórias Curtas, obra escrita em 1907; Tenha Fé Até a Morte, de 1920; Relações, de 1932.


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Intercâmbios de pensamento no TUSP... Aconteceu:
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Palestra de Josette Feral



No dia 26 de agosto Josette Féral (critica, teórica e professora titular no Departamento de Drama da Universidade de Quebec em Montreal, onde dá aulas desde 1981) realizou uma palestra no TUSP sobre “Presença e Efeitos de Presença”, onde expôs as novas pesquisas que realiza junto a outros estudiosos e artistas de artes (cênicas e visuais).

Na palestra, Josette discorreu sobre a fenomenologia dos termos “presença” e “realidade”, procurando criar um campo de discussão e de reconhecimento para as novas produções cênicas e visuais (interativas e interdisciplinares) contemporâneas. Para dar alguns exemplos dessas produções (canadenses), Josette exibiu vídeos de montagens e de exposições recentes que recolocam a questão e o lugar do espectador com aquilo é apresentado, e, como grande cerne da discussão, a noção de realidade e de presença do “material em cena”.

Ao que parece, projeções em 3D em cena, interação audiovisual com corpo real e corpo virtual, sobreposição de planos (real e virtual), modificam o olhar sobre a realidade, e questionam sobre a realidade e a virtualidade, tanto ao que se vê, quanto sobre quem vê.

Sabemos que projeções, interação entre vídeo, som e cena não são novidades no campo das artes cênicas, já no começo do século passado Piscator fez uso de grandes maquinas e dá importantes exemplos do uso de filmes e fotos em suas encenações no Wolksbunner, na Alemanha. Nos últimos anos, aqui no Brasil, também temos inúmeros exemplos do experimento em cena com filme, projeções, usos diferenciados de som e outras tecnologias que procuram estabelecer novas relações daquilo que é exposto com aquele que vê.

Josette Féral recoloca as questões das projeções, da interdisciplinaridade em cena, da presença e do efeito de presença por outros paradigmas, sobre a virtualidade e realidade da cena, que nos atravessa e nos recoloca como espectador.


Introdução ao tema da palestra


Efeito de presença e efeito de real nas artes cênicas e nas artes mediaticas
Formas indisciplinares
As novas tecnologias penetram como nunca as produções artísticas e contribuem amplamente na evolução das linguagens cênicas atuais, modificando profundamente as condições de representação e intensificando sempre mais os efeitos de presença e os refeitos de real. Projeções, instalações interativas, ambientes imersivos, espetáculos sobre o telhado: os sentidos (e as sensações) estão frequentemente solicitados todos juntos (veja a encenação de Cardiff ou Goebbels). Essas modalidades de emergência dos efeitos de presença em cena suscitam a aparição de novos paradigmas, até mesmo de novas formas cênicas que transgridem os limites das disciplinas e se caracterizam por uma identidade instável, mutante, em perpetua redefinição. Os espetáculos que resultam não se limitam mais a união, mesmo que positiva, das disciplina e das tecnologias. Não são nem dança, nem teatro, revelam nada mais que artes visuais ou mediaticas. Não estão distintas entre si por disciplinas. A noção de “efeito de presença” será, ainda este ano, no centro de nossos estudos. Nos perguntamos sobre a diversidade dos efeitos explorados (personagens reais ou virtuais, simulador de sensações, dispositivos de imersão...), o impacto das tecnologias sobre a representação cênica, as diversas modalidades de interpretação entre o virtual e o real dentro dessas formas de arte. Tentaremos também ir alem e identificar as estéticas emergentes na paisagem artística contemporânea. As questões levantadas por essas novas formas cênicas conduziram nossa reflexão: O que cria o sentimento de presença? Segundo qual dispositivo, quais interfaces ele recorre às tecnologias, tão múltipla e variada, ela renova a dinâmica entre performer, o espaço e o tempo da representação? Qual relação se estabelece entre a obra e o publico a partir do momento em que os efeitos de presença e dos efeitos do real dominam a estética do espetáculo? Como as obras trabalham a relação entre a sensibilidade e a inteligência?


Acompanhe algumas discussões atuais com Josette Féral:
http://krachtvancultuur.nl/uk/archive/amsterdam/feral.html



Pesquisas atuais de Josette Féral:
Performatividade e performance
Arte e tecnologia, estética teatral
Interdisciplinaridade e multiculturalismo.


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